Gráfico vermelho com ações da bolsa em queda

O rombo das Americanas e o seu investimento em Previdência

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No começo de janeiro, o mercado foi surpreendido pelo anúncio da Americanas constatando “inconsistências contábeis” em seu balanço financeiro. A dívida da empresa, que era apresentada como próxima de R$ 20 bilhões, foi reportada como sendo de mais de R$ 40 bilhões.

Para que você possa entender se isso afeta seus investimentos em previdência, conversamos com Christopher Smith, da Capitânia Investimentos. O gestor traz um panorama do que aconteceu, qual foi o impacto no mercado e de que forma você pode se proteger de perdas causadas por episódios como esse.

Buraco bilionário

Até o início deste ano, os balanços da Americanas mostravam uma empresa consistente e saudável, controlada por um trio de acionistas renomadíssimo no mercado financeiro – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, donos do 3G Capital. No dia 11 de janeiro, as tais “inconstâncias contábeis” revelaram um buraco bilionário nas contas da empresa.

De forma bastante simplificada, o rombo veio com um problema de lançamento no balanço das dívidas que a Americanas tinha com os fornecedores e os bancos. A empresa comprava mercadoria dos fornecedores e quitava essa dívida com um empréstimo do banco. Em outras palavras, a gigante do varejo deixava de ter uma conta a pagar com o fornecedor e tinha uma dívida com um banco, o que é uma operação legal.

Segundo Christopher, “o problema todo começa quando o custo dos juros é subtraído da linha de fornecedor, aí você começa a abrir um buraco dentro do balanço. Fazendo isso ao longo de oito, 10 anos, como foi apontado, você gera esse rombo gigantesco no balanço, algo completamente insustentável.”

Efeitos imediatos

Os credores da Americanas passaram a se movimentar intensamente para recuperar as perdas em prol dos seus investidores. O ajuizamento da recuperação judicial da empresa trouxe alívio nesse sentido. “Até então só os bancos credores estavam conseguindo agir para a recuperação das dívidas. Os debenturistas, como nós, estavam mal posicionados, mas agora estamos todos no mesmo plano de atuação. Por esse ângulo a recuperação judicial é positiva para os debenturistas, pois coloca todos os credores no mesmo nível”, disse Christopher.

A expectativa é de que a crise não se espalhe. “Não vejo qualquer fluxo de resgate atípico, nem aqui nem nas assets com as quais temos mais contato, que são as grandes. Do lado das assets independentes, o passivo tem se comportado de maneira bem controlada”, afirma.

Impacto real nos fundos

Assim como boa parte do mercado, a Capitânia tem exposição a Americanas em quase todos os seus fundos. “Todos os nossos fundos previdenciários, independente da plataforma ou da seguradora, têm algo entre 0,50% e 0,70% alocado em Americanas”, diz Christopher.

O gestor acredita que em torno de cinco ou seis meses existirá plena condição de estar acima do CDI.“Como é algo agudo, realmente não é um movimento rápido. Tudo depende da Americanas também. Se houver um aporte dos acionistas maior do que o esperado isso pode reverter boa parte das perdas deste mês”.

Muita calma nessa hora

Até agora muito pouca informação foi divulgada pelas Americanas, tanto para as gestoras como para os investidores. O silêncio da empresa tem surpreendido até os gestores mais experientes e não se sabe ainda qual é a estratégia dos acionistas.

Para os investidores mais afoitos, o especialista recomenda: “não é porque você perdeu dinheiro num fundo de crédito agora que tem que sair do fundo. É preciso pensar: o que eu quero com essa realocação, quero ganhar mais dinheiro ou quero proteger meu capital?

Segundo ele, ficar entrando e saindo do fundo nunca é a melhor solução. “Estudos mostram que pessoas que tentam acertar o timing do mercado costumam perder mais dinheiro do que ganhar. Na crise da pandemia, por exemplo, que foi bem aguda, quem resgatou nos primeiros impactos perdeu dinheiro”, lembra Christopher.

Diversificar sempre

O gestor também traz recomendações sobre qual estratégia adotar na hora de investir: “É preciso ter o objetivo em mente. Onde quero chegar, quando desejo resgatar esse dinheiro, quando vou utilizá-lo? Aí você faz o exercício de trás para a frente. Onde tenho que estar alocado para tentar chegar lá?”, explica.

A diversificação é outra dica de ouro. “Saindo um pouco dos desafios do caso, a estratégia de gestão, independente do grau de risco e do retorno do ativo, é a diversificação. Você tem que sempre usar a diversificação a seu favor e manter um percentual da carteira pequeno, mesmo que o caso seja AAA, pagando CDI mais 3%, como era o caso da Americanas”, esclareceu.

Oportunidades

Traçando analogias com o passado, é sempre bom lembrar que crises assim trazem também oportunidades. “No auge da crise financeira da Covid-19, por exemplo, tinha caixa e teve calma gerou ganhos muito substanciais”, lembrou Christopher. “Porque o mercado sofreu, teve uma reprecificação e encontrou um novo equilíbrio. O novo ponto de estabilidade trouxe depois retornos substanciais”, disse.

O clima na gestora é positivo. “Por enquanto estamos bem otimistas frente aos próximos meses, olhando o cenário macro. Estamos 100% focados, com posição de caixa defensiva para tirar proveito das oportunidades”, disse Christopher. “Se houver alguma oportunidade como houve na pandemia, a gente tende a ser um dos grandes favorecidos”, conclui.