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“É possível resistir às vitrines, ofertas e promoções?”

Tempo de leitura: 5 minutos

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Vera Rita Ferreira de Mello, especialista em psicologia econômica, explica sobre como funciona a mente humana quando o assunto é dinheiro, gastos, investimentos e muito mais.

Poupar, investir e consumir. Nossa relação com o dinheiro tem muito de racional. Mas o seu componente emocional é, sem dúvida, muito forte. Somos o tempo todo influenciados por nossos desejos e enganados por “vieses cognitivos”, atalhos mentais que nos levam a tomar decisões irracionais. Para nos ajudar a lidar melhor com o tema, a Icatu convidou a doutora em psicologia social e especialista em psicologia econômica Vera Rita de Mello Ferreira para uma live no YouTube. O evento aconteceu no canal da Icatu, em 20 de maio, mediada por Giselle Vasconcellos, da equipe de Marketing. Leia o resumo dos principais trechos e, depois, assista à entrevista.

No começo do encontro, Vera – que há 27 anos estuda e dá aulas sobre psicologia econômica – falou sobre o campo de estudo da disciplina: entender como a mente humana funciona quando estamos tomando decisões. Essas decisões podem ser as mais diversas, como uma simples compra, quantos filhos teremos ou se vamos ou não poupar para a aposentadoria.

Tentações de consumo

É possível resistir às vitrines, ofertas no Instagram com produtos que amamos e promoções? Para Vera, essas não são tarefas fáceis. A psicanálise explica o porquê: “Nós somos movidos pelo desejo. O tempo todo somos movidos por uma sensação de incompletude, de falta, de insatisfação”, disse a especialista, doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Segundo ela, há ainda duas “pegadinhas” que o desejo nos prega. A primeira é: ele é inconsciente. “A gente nunca sabe o que deseja de verdade. Então, a gente fica muito vulnerável a todos os milhares de apelos do marketing”, disse Vera, que logo depois contou a segunda “pegadinha” – que acontece quando, seduzidos pelas tentações de consumo, compramos o objeto tão almejado.

Será que o desejo desaparece? “Ele nunca será definitivamente satisfeito. Essa sensação de falta nunca vai ser preenchida de vez. A cada momento ela retorna, e é isso o que mantém a gente vivo. Então, não há nada de errado com isso. Só nos torna muito suscetíveis a todas as tentações infinitas”, afirmou.

Débito ou crédito?

Um dos maiores vilões para quem tem dificuldades em consumir menos é um objeto de plástico onipresente em nosso dia a dia, que está em nossas bolsas e carteiras. “O cartão de crédito distancia o momento da compra, em que você está deixando de possuir aquele dinheiro em troca do bem que você está comprando, da dor de sentir que seu dinheiro foi embora”, analisou.

Essa dissociação entre o dinheiro e o cartão de crédito foi agravada nos últimos anos, quando se tornou comum o uso de aplicativos de entrega de comida, como o iFood, e de viagens, como o Uber. Nesses casos, nem sequer precisamos usar o plástico na maquininha para fazer a compra. Vera dá a saída: “Estudos mostram que, se você usa dinheiro vivo, consegue inibir os gastos”.

Decisões irracionais

Somos traídos todo o tempo por nossos vieses cognitivos – aquelas distorções de julgamento que acontecem em alguns momentos, nos levando a decisões pouco racionais. Para nos proteger (e proteger também nosso dinheiro) desses escorregões, Vera deu uma série de dicas durante a live.

Uma delas é: se queremos poupar, é preciso guardar automaticamente uma parte do salário ou renda, e não esperar que façamos isso todo mês por vontade própria: “É muito difícil guardar dinheiro. Eu sempre conto a história de um estudo de neurociência que mostra que a área do cérebro que é mobilizada quanto você guarda dinheiro para o futuro é a mesma área do cérebro que é mobilizada se você der dinheiro para um estranho no meio da rua”, revelou.

Já para manter uma rotina de exercícios ou fazer dieta, esqueça regras e planos mirabolantes, recomendou a especialista. O segredo é: “Facilitar. Facilitar para você fazer aquilo que você precisa. Começar aos poucos também pode ajudar algumas pessoas. Mudanças graduais.”

Para quem deseja perder peso, existem também pequenos truques. “Você emagrece mais se adotar uma regra única. Por exemplo, cortar refrigerante. E daí você não pensa mais nisso: refrigerante, não. Pronto, acabou.”

Guiado pela maioria

O que explicaria o clássico comportamento de manada? Dos momentos de consumo descontrolado (como acontece na Black Friday todos os anos) aos ativos que de uma hora para a outra se tornam febre entre investidores, formando bolhas especulativas, temos a tendência de seguir as escolhas da maioria das pessoas.

Para Vera, isso se deve à forma como desde os primeiros meses de vida aprendemos a andar, falar etc.: sempre por meio da imitação. “Então, esse comportamento de imitar fica sempre muito poderoso o resto da vida. Em caso de dúvida, incerteza, angústia, quanto mais gente tiver aderido… Tudo isso empurra a pessoa para ir atrás dos outros.”

Aversão a perdas

Se o comportamento de manada pode ser explicado por nossos primeiros anos de vida, a aversão a perdas (preferimos deixar de ganhar a perder algo) teria sido uma herança de nossos ancestrais, como explicou Vera: “Nós descendemos daqueles que menos perderam. E que inclusive levaram mais tempo para perder a própria vida, e conseguiram passar seus genes adiante.”

Desafios impostos pela pandemia

Durante a conversa, Giselle e Vera lembraram um dos momentos mais desafiadores para muitas pessoas nos últimos anos: a pandemia de Covid-19.

Quem não tinha uma reserva de emergência, por exemplo, sofreu com o aumento do desemprego e o fechamento do comércio por vários dias. “Claro que algumas pessoas tiveram a experiência de passar pela pandemia sem reserva de emergência, e sofreram muito mais do que quem tinha reserva de emergência… Quem tinha reserva de emergência também sofreu por ter que mexer nela”, ponderou Vera.

‘Invista como uma garota’

Para Vera, parece existir uma clara diferença entre os gêneros na hora de investir: os homens, que se arriscam mais, geralmente têm retorno menor do que as mulheres, que são mais conservadoras, mais cautelosas. “A gente vai com mais cuidado, vai em busca de mais informação, não fica com aquela aflição de ficar ‘pulando de galho e galho’, e tem retorno melhor. Então, invista como uma garota”, recomendou.

Assim como as mulheres são mais conservadoras que os homens no momento de investir, na hora das compras, apesar de o senso comum acreditar que elas são mais consumistas, na prática não é isso o que acontece, afirmou Vera. “É calúnia dizer que mulher é mais impulsiva que homem. A gente vai mais às compras, mas o nosso tíquete médio é mais baixo do que o dos homens, em geral”, revelou.

Nossa relação com o futuro

O dinheiro é o primeiro – senão o único – exemplo que costuma vir à mente quando as pessoas pensam no objeto de estudo da psicologia econômica. Na verdade, a disciplina, que em 2002 ganhou grande visibilidade quando o psicólogo e matemático Daniel Kahneman recebeu o Prêmio Nobel de Economia, se ocupa da nossa relação com os recursos finitos, como o tempo.

Segundo Vera, o ser humano odeia a sensação de finitude. “E uma parte das pessoas não quer nem pensar em morrer também, e não fica olhando para o futuro. A humanidade na maior parte do tempo de sua existência não tinha que olhar para o futuro. Isso porque já estava superenvolvida com os desafios, as ameaças à sua própria sobrevivência diária. Então, a gente não veio com o ‘chip’ para o futuro”, afirmou.

Dinheiro versus felicidade

Na conversa, Vera também analisou um velho ditado popular: “A falta de dinheiro, sim, traz infelicidade. Isso não tem dúvida. Agora, que o dinheiro traz felicidade, há muita controvérsia”, destacou.

Mas será que aumentos súbitos de renda, como os que acontecem com quem enriquece de uma hora para a outra, podem aumentar proporcionalmente o bem-estar?

Ela defende que, uma vez saciadas as necessidades básicas de uma pessoa, ganhar mais dinheiro pode não fazer tanta diferença assim. “Não significa que o bem-estar que ela sente vai aumentar na mesma proporção. A pessoa pode, sim, ter uma satisfação melhor com a vida dela. O dinheiro não garante a maneira como você se sente a cada momento.”

Quem é Vera Rita de Mello Ferreira

Vera Rita de Mello Ferreira atua como consultora de Psicologia Econômica, Educação Financeira e Arquitetura de Escolha para organizações nacionais e internacionais. Professora na B3 Educação, coordenadora de workshops, palestrante, autora dos primeiros livros de Psicologia Econômica no Brasil e presidente eleita da International Association for Research in Economic Psychology (IAREP). Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Clique aqui e assista à live completa.

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